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BLOG

Quinta-feira, 15/12/2016
Blog
Redação
 
Pai e Filho



Hoje é o primeiro dia em que eu e meu filho ficamos longe um do outro. Ele acompanha a mãe ao trabalho. Quando Theo nasceu, eu e a Namorada tomamos a decisão de que eu ficaria com ele ao invés de colocá-lo numa creche ou entregá-lo aos cuidados de uma babá ou qualquer outra pessoa que fosse. Creche, só depois que ele se comunicasse bem conosco. Passados quase três anos posso dizer que foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida. Cuidar de um filho envolve muito tempo e energia de modo que tive de deixar em segundo plano o que entendo ser minha vocação. Escrever e ler se tornaram um luxo do qual eu apenas consigo desfrutar com calma nas férias de minha esposa. Em fins de semana, até consigo ler, e a escrita fica restrita a alguns poucos posts, pois tenho que conciliar ambas atividades com outros afazeres cotidianos. Quem vivenciou ou vivencia semelhante experiência sabe do que estou falando, sabe que não é trivial ser pai, mesmo quando não se passa o dia com os filhos. Havia momentos, ou melhor, há momentos em que sinto muita falta de não ter tempo para escrever. Entretanto, não me arrependo da escolha que fiz pois hoje tenho uma relação muito especial com meu filho, além de saber que ele teve carinho, atenção e condições de se desenvolver que não sei se teria se estivesse sob os cuidados de outra pessoa – conheço poucas pessoas tão sensíveis como eu no que diz respeito à alimentação e outras necessidades de uma criança como as de simplesmente brincar, fantasiar e se movimentar, seja em casa seja nos parques.

Uma coisa que ameniza os momentos em que sinto falta de escrever é a ideia de que em breve tornarei a ter mais tempo, afinal meu filho está crescendo e logo irá para a escola, começará a ter uma vida além do pai e da mãe. Antes disso e partir do ano que vem minha esposa entrará em licença e passará mais tempo com ele. Será o último ano antes de ir para a escola e ter um contato maior com outras crianças além do que tem pelas manhãs nos parquinhos. Os limites do mundo dele começarão a se alargar fora da esfera familiar. Sinto que fiz o que estava ao meu alcance para que Theo tivesse a companhia de um bom pai em seus primeiros anos. Sinto que agora é hora de eu voltar a escrever até mesmo para que continue sendo capaz de ser o pai que tenho sido, alguém que ao longo de sua vida contribua para que ele encontre sua vocação, aquilo que o faça sentir-se vivo. Sinto que não poderei ajudá-lo se eu mesmo não voltar a me dedicar a minha. Foi difícil mas gratificante ter acompanhado de perto o dia a dia de meu filho até aqui, mas de agora em diante penso que tornar a ler e a escrever, a passar algumas horas do dia sozinho, será tão importante para mim como para o ele. Na verdade, acredito que será importante para nós três enquanto família.

Para terminar, deixo, abaixo, umas palavras da escritora Natalia Ginzburg, com as quais tenho grande afinidade, sobre a educação de nossos filhos:

Uma vocação, a paixão ardente e exclusiva por algo que não tenha nada a ver com dinheiro, a consciência de ser capaz de fazer uma coisa melhor que os outros, e amar essa coisa acima de tudo, é a única possibilidade de um garoto rico não ser minimamente condicionado pelo dinheiro, de ser livre diante do dinheiro: de não sentir em meio aos demais nem orgulho pela riqueza, nem vergonha por ela. Ele nem se dará conta das roupas que usa, dos costumes que o circundam, e amanha poderá passar por qualquer privação, porque a única fome e a única sede serão, nele, sua própria paixão, que devorará tudo o que é fútil e provisório, despojando-o de todo hábito ou atitude contraído na infância, reinando sozinha em seu espírito. Uma vocação é a única saúde e riqueza verdadeiras do homem...

E, se nós mesmos, pais, tivermos uma vocação, se não a traímos, se continuarmos a amá-la no decurso dos anos, a servi-la com paixão, podemos manter longe do coração, no amor que sentimos por nossos filhos, o sentimento de posse. Porém, se não tivermos uma vocação, ou se a tivermos abandonado e traído por cinismo, ou medo de viver, ou um amor paterno mal compreendido, ou por uma pequena virtude que se instala em nós, então nos agarramos aos nossos filhos como um naufrago ao tronco da arvore, pretendemos vigorosamente que nos devolvam tudo o que lhe demos, que sejam absoluta e implacavelmente tal como nós os queremos, que obtenham da vida tudo o nos faltou terminamos pedindo a eles tudo o que somente uma vocação pode nos dar: queremos que sejam nossa obra em tudo, como se fossem não seres humanos, mas obra de espírito. Porem, se tivermos em nós uma vocação, se não a renegamos ou traímos, então podemos deixá-los germinar tranquilamente fora de nos, circundados da sombra e do silencio que o brotar de uma vocação e de um ser requer. Esta talvez seja a única oportunidade real que temos de ajudá-los em alguma medida na busca de uma vocação, conhecê-la, amá-la e servi-la com paixão, porque o amor à vida gera amor à vida.


Natalia Ginzburg

Contato: [email protected]

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Postado por O Equilibrista
15/12/2016 às 11h00

 
O pulso do natal

O leitor que me acompanhar nessa crônica, certamente me tomará como uma espécie de Ebenezer Scrooge, o imortal personagem de Charles Dickens, que não conseguia incorporar o espírito natalino.

Acontece, porém, - e sei que estou sendo repetitivo - que a sinceridade me abraça quando digo que considero o natal uma festa chatíssima.

Acesso o youtube e escuto “O pulso” da banda Titãs.

Adoro essa música!

Que fim levaram os antigos cartões de natal? Antigamente eu passava horas escolhendo cartões que depois enviava para os amigos, como ainda hoje faz meu amigo Manolo, que dos EUA, todos os anos me envia cartões de natal: nunca consegui lhe enviar de volta sequer um reles cartão, e fico naquela de apenas agradecer, numa mensagem seca de muito obrigado, via whatsapp.

Nesses momentos, Mister Scrooge sentiria orgulho de mim.

Mas porque será que chove tanto em dezembro?

Eu detesto chuva.

Visito em pensamentos antigos natais, revejo os amigos e a canção que gostávamos de cantar longe dos adultos: Jingle bels, jingle bels, acabou o papel...

Ainda navega em mim a lembrança do pé de goiaba no quintal de casa, que enfeitamos com bolas de isopor, mas à noite veio a chuva de dezembro, forte e rápida, levou tudo embora e daquilo só guardei melancolia.

É no natal que esse sentimento aflora, assim que me vejo diante da figura nórdica do papai Noel: “ho, ho, ho” diz o senhor fantasiado de barba e roupão vermelho, sem se importar com a minha indiferença.

Talvez não passe de trauma de infância, porque nunca tivemos casa com chaminé e enquanto o filho da vizinha ganhava uma bicicleta, eu me contentava com um carrinho de plástico sem as rodas.

Ok, Mister Scrooge, eu também não gosto de vinho, peru tem a carne sem graça e castanhas me provocam engasgos.

Mas o pulso pulsa.

Arroz com uva passa? Não, passo, prefiro farofa.

Bebe-se muito no natal, penso, enquanto tomo mais um gole de cerveja.

Não devia fazer isso, um copo a mais é um neurônio a menos.

O pulso ainda pulsa.

Quando o fecho da noite de natal se aproxima, o único pensamento que me ocorre é que preciso urgentemente fumar um cigarro.

Eu não posso fazer isso.

Uma tragada a mais é um dia a menos de vida.

O pulso segue pulsando.

Alguém, por favor, me sirva um pedaço de panetone!

Eu sei que já disse diversas vezes que detesto panetone, mas talvez combine com o vinho, que agora está tão doce...

A noite termina e resta uma tênue luz que escapa de uma árvore de natal.

O pulso haverá de pulsar na manhã seguinte.

Suma daqui, Mister Scrooge!

É hora de preparar os festejos da virada de ano, que este que está acabando foi péssimo, levou David Bowie, Prince, Ferreira Gullar, Geneton Moraes Neto, um time inteiro de futebol.

No fim de tudo, fica em mim o inquietante sentimento que o natal é melancólico e é preciso permitir que o vento de coisas boas e novas assopre em meu rosto a brisa da fé e esperança, que o ano que vai começar seja muito melhor para todos e que o pulso prossiga pulsando por outros tantos natais.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
15/12/2016 às 10h04

 
O santo e el-rei (série: sonetos)

Para Álvaro Alves de Faria

Quem vem lá? Quem vem lá? E reverbera
d’ El-Rei a voz dizendo sem lamento:
Quem sozinho venceu o mar cinzento
ressuscitou na lira d’outra era.


Ah! Saber do tempo eu tanto quisera
e dele o timbre fez-se a meu contento,
quando lavrou-me além do pensamento
a orla que se pensara quimera.


Em claras águas nesta verde mata,
Às terras de um Rio finda a clausura.
E eis que da morte o triste se desata.

Se ao criador urde-se à criatura,
ao Santo e ao Rei festeja-se a bravata.
E ao nosso chão a Ibéria se mistura.


(Poema até então inédito)

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Postado por Blog da Mirian
9/12/2016 às 23h55

 
O sonho acabou?

Eu não sei se vocês se lembram de 2014, quando a Dilma ganhou

Ficou uma sensação estranha no ar. Usaram várias expressões para definir

Vitória de Pirro. Ganhou perdendo. Ganhou mas não levou. Etc.

Pois, desde que o Renan desacatou o Supremo, e o Supremo referendou o desacato, estou com a mesma sensação

Dilma continuou tocando a vida, em 2015 - e fingiu que nada estava acontecendo

Só que nada mais dava certo (se é que algum dia deu certo pra ela)

O Renan, depois de fugir do oficial de justiça na véspera, veio dizer, no dia seguinte, que "decisão do Supremo tem de ser cumprida"

Sempre que a Dilma feria a lógica, aparecia um blogueiro "a favor" para justificá-la

Deveria haver alguma sabedoria - oculta - por trás de todo aquele nonsense...

Pois estou com a mesma sensação agora:

"Qual o problema em desacatar na véspera e dizer que tem de cumprir no dia seguinte?"

(Dá até para ouvir o blogueiro "a favor" justificar...)

Tudo em nome da "governabilidade". Das reformas. Etc.

É preciso aceitar o resultado - senão o governo não consegue fazer nada

Que resultado? O das eleições de 2014? Ou o do desacato (que o desacatado acatou)?

E que governo não consegue fazer nada? O da Dilma? Ou o de agora?

Na ilusão da Dilma, eu nunca caí, vocês sabem, mas na do Temer, eu caí, confesso

Só que a "mágica" do Supremo não foi bem costurada - ficou um cheiro de pizza no ar; um clima de marmelada

O mágico, quando não é bom articulador, revela seus truques, a plateia percebe - e não acredita mais

Em 2014, depois da eleição da Dilma, o Brasil entrou numa espécie de "realidade paralela":

Era surreal. Não colava. Não convencia. Era uma fraude

O custo de trazer o Brasil de volta, pros trilhos, foi alto...

(E ainda não terminamos de pagar)

O caso do Renan - e do Supremo - promoveu o mesmo tipo de "descolamento" da realidade

Desilusão. Ressaca. Gosto de cabo de guarda-chuva...

Desde que tentaram enganar o Brasil que o Brasil não acredita mais...

Qual o custo da correção de rota agora? Fora, Renan? Fora, STF? Ou Fora, Temer?

Roberto Campos dizia que, no Brasil, certas leis "não colam". E, pior: algumas constituições - inteiras - não colaram...

Por causa de uma decisão do Supremo que não colou, um governo - inteiro - ameaça não colar mais

Como o anterior

O sonho pode ter acabado

Talvez seja hora de acordar o gigante, de novo...

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Postado por Julio Daio Bløg
9/12/2016 às 18h01

 
Tem café?

Acordar, ir à cozinha e preparar um café forte para despertar o sistema. Um dos poucos prazeres para madrugadores. Logo, presume-se, que a bebida seja de fácil preparo.

Mas não é.

Sofro demais (e invejo quem consiga) por não conseguir tirar do enigmático pó algo equilibrado.

Sempre fica um líquido viscoso no fundo da xícara que me entristece, denunciando sua má feitura – a famosa borra.

Penso que o meu erro esteja na convergência da quantidade de água com o pó. A porção deste sempre ultrapassa o poder diluidor daquele.

Processo simples, acredito, para o resto do mundo, que me dá ódio.

Em alguma passagem da minha existência, sessões de tortura devem ter me deixado longos períodos sem café, ou me oferecido apenas água de batata.

O que desordenou a região mestre-cuca do meu cérebro, me obrigando a pesar a mão nas colheradas. E não há maneira de ser diferente.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Blog de Marco Garcia
6/12/2016 às 11h50

 
Ferreira Gullar (1930-2016)

Morreu o nosso último poeta digno de nome. Também o nosso último candidato a Prêmio Nobel. Podemos desistir de ganhar. Em literatura, pelo menos

Gullar, cuja família era Goulart, foi reconhecido por todos. No seu aniversário de 18 anos, sozinho no Rio de Janeiro, um único livro publicado, amigos bateram na porta do seu apartamento para comemorar com ele. O último a entrar, teve de se apresentar: "Oi, eu sou o Oswald de Andrade"

Quando estava no exílio - como Paulo Francis, foi de esquerda quando ninguém era, e deixou de sê-lo quando todo mundo virou -, viveu situações precárias e achava que poderia não sobreviver. Resolveu deixar um poema-testamento. Sobre tudo. Foi de Vinicius de Moraes a ideia de gravar Gullar recitando o poema. Quem ouvia a fita, no Brasil da época, chorava. Era o Poema Sujo

Numa das últimas Flips a que eu fui, Gullar leu o "Sujo" para a plateia. E numa das últimas edições, pela José Olympio, era encartado um CD com ele recitando o "Poema"

Além de poeta, Gullar tinha uma grande sensibilidade artística, participou do movimento neo-concretista, e foi crítico de arte. Era um ferrenho crítico da arte contemporânea e achava que a arte conceitual havia ido longe demais. "É como se a literatura ficasse presa no James Joyce, ou no Guimarães Rosa", afirmava

Também rompeu com os concretistas (os poetas concretos) - que morreram, quase todos, brigados com ele. Gullar justificava o rompimento dizendo que poesia não era matemática - e quando usavam fórmulas matemáticas para criar poemas, não havia mais sentido

Por conta do seu engajamento de esquerda, se aproximou da turma do Teatro Opinião, e se meteu a fazer poesia de cordel. Igualmente, se desiludiu. Não acreditava que seu papel, como poeta, era "sensibilizar as massas" politicamente - muito menos, produzindo poesia de baixa extração...

Ultimamente, arranjou muitas brigas, pois se tornou um grande crítico do PT, da esquerda e dos intelectuais (muitos, colegas seus). Sua coluna semanal na Ilustrada, dada a sua grande obra poética, tornara-se incômoda - para tanta gente que abraçara a utopia e não sabia mais viver sem se apoiar no governo e na Lei Rouanet...

E Ferreira Gullar - para quem não gosta da Globo - trabalhou na TV Globo. E podemos dizer que a poesia brasileira deve alguma coisa à Globo. Porque esta permitiu que Gullar vivesse dignamente enquanto se dedicava àquela...

Era um prazer ouvir Gullar falar. Era um mestre. Como tinha muita vivência, e uma obra digna desse nome, nunca lhe faltava assunto, e suas opiniões eram, no mínimo, interessantes

Ninguém poderia imaginar que um gênio desses poderia sair do Maranhão (nada contra os maranhenses), e ainda por cima se chamar José Ribamar (o mesmo nome daquele homem). Talvez Gullar tenha vindo, justamente, para redimir o Maranhão

E Gullar sofreu como pai. Tinha esquizofrenia na família, mas se colocava à disposição para falar do assunto sem rodeios - ajudando, inclusive, outros pais, e familiares, na mesma situação

A poesia brasileira fica à deriva agora. Perdeu um farol. Um norte. Como não se faz mais obras, como se fazia antigamente, ficamos órfãos - poeticamente

Claro, Gullar não viveria para sempre. E tivemos sorte por tê-lo, entre nós, durante tanto tempo. Mas olhando o horizonte da poesia brasileira hoje, não é dos mais animadores

Sobra uma poesia liliputiana, como diria Francis, pós-Leminski. E permanece a controvérsia se MPB é poesia, se "letra de música" equivale a poema e se Bob Dylan merecia o Nobel etc.

Eu acho que Dylan não merecia. Já Gullar merecia. Dá uma ideia da grandeza dele - para o Brasil e para a nossa língua

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Postado por Julio Daio Bløg
5/12/2016 às 11h06

 
4 de Dezembro de 2016

Estava meio pensativo se ia ou não, mas quando soube da morte do Ferreira Gullar, fui - por ele

Fazia tempo que não ia, acho que foi minha primeira manifestação pós-impeachment. Eu não achava que o Temer deveria ser incomodado. Até a última semana...

A gente percebe que a manifestação vai ser boa já no metrô: os camisas amarelas embarcando, aumentando a cada estação e desembarcando, em massa, na estação Paulista

Muita gente de meia-idade pra cima. Muitas famílias. Crianças. Muita gente enrolada na bandeira do Brasil (novo modelito)

Quando a gente percebe que tem muita gente "normal" se encaminhando da Consolação para a Paulista, conclui, antecipadamente, que vai ser algo representativo

Outro termômetro, pra mim, é a esquina da Augusta com a Paulista: quando a manifestação vai ser grande, ali já fica lotado - mas, desta vez, não estava

Desta vez, a concentração foi mesmo em frente ao Masp, onde estava o carro do Vem Pra Rua. Os carros anteriores a eles não me chamaram muito a atenção

Só teve um imediatamente anterior, um pouco antes do parque Trianon, onde subiu o Major Olímpio, e começou a berrar, daquele jeito dele, como quando era candidato a prefeito - até que falou coisa com coisa e o pessoal gostou

Chegando ao Masp, já se avistava os bonecos. O "novo", do Renan, que podia ser confundido com o Gilmar Mendes, pela calva e pelos óculos. E, do outro lado do carro de som, o eterno Pixuleco. Meio sentado, já que, de pé, ficaria maior que o "Renan" - o foco era o Renan

Procurei me instalar no Starbucks nas imediações, para fazer transmissões via Wi-Fi. (Na fanpage do Digestivo tem uma.) Mas estava difícil entrar e sair do Starbucks

Ilhado, aproveitei para ouvir os discursos. O Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, fez questão de dizer que não era a favor do "Fora, Temer". Depois o Modesto Carvalhosa assumiu o microfone, mas se ouvia mal - ou não se ouvia nada

Basicamente, as pessoas vibravam e aplaudiam quando era mencionado o nome do Sérgio Moro. E, para a minha surpresa, havia um esforço, nos carros de som - nos primeiros, pelo menos - no sentido de afirmar que "nem todos os políticos" eram bandidos e que "nem todos", no Congresso, desvirtuaram as "10 Medidas"

O MBL estava num carro mais módico, desta vez (nem dava, quase, para reconhecer). E a turma da extrema direita - intervenção militar etc. - começava a aparecer mais na direção da Brigadeiro (mas não tinha muito quórum, não)

Como não poderia deixar de ser, não se ouvem mais os slogans anti-PT, como "Fora, PT" e "a nossa bandeira jamais será vermelha" etc.

E, dada a diversidade da fauna, me pareceu que a turma do Haddad - aquela que frequenta a Paulista "interditada" no domingo - acabou se misturando "quase sem querer" com o que chamavam de "coxinhas" (e, agora, quase não chamam mais)

Claro que a extrema esquerda não veio. Não havia quebra-quebra. Nem bandeiras vermelhas. E não vi nenhum cartaz "#ForaTemer"

Ainda é contra a corrupção (o movimento). Agora é contra o Renan. Respingando no Congresso e no STF. Mas ainda não é "contra o presidente". (Temer: em São Paulo, ainda não foi sua vez)

A sensação, como sempre, é muito boa - de ter ido. Eu fui mais por curiosidade, desta vez, confesso. Mas acho saudável. Mesmo não concordando 100% com a pauta

Quem não foi, perdeu. E vou além: quem não vai nas manifestações, não entende o Brasil de hoje. (Tem de sair do Facebook, gente)

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Postado por Julio Daio Bløg
5/12/2016 às 10h55

 
Que exemplo arrebatador a Colômbia dá ao mundo

O tempo jamais apagará da nossa memoria esse terrível acidente aéreo que envolveu a delegação do time da Chapecoense em Medelín. Uma tragédia que abalou o mundo inteiro.

Dizem que através da dor é que surgem a união e o amor. Pois é. Aquilo que andava “tão esquecido” no meio de nós, motivado certamente pelo momento de crise política e social que vive o Brasil, reaparece agora com um belo exemplo de altivez e carinho do povo da república colombiana:solidariedade e fraternidade.

Momentos inesquecíveis foram vistos no estádio de futebol onde seria decidida a copa sul-americana.

O carinho que eles tiveram para conosco foi muito emocionante.

Descobrimos uma nação nobre e cheia de princípios para ensinar o mundo todo.

Os jovens atletas da Chapecoense que iriam, nesta quarta-feira, 30 de novembro de 2016, disputar o título da Copa Sul-Americana, vão ficar para a história. Não apenas do futebol brasileiro, mas do sul-americano e mundial como verdadeiros heróis.

Não se encontram palavras para expressar a nossa tristeza pelas 71 vidas ceifadas. Nosso respeito e admiração ao povo Catarinense, às famílias enlutadas dos atletas da Chapecoense, da comissão técnica, bem como dos jornalistas e de toda a tripulação.

Pedimos ao Senhor da vida que proporcione forças aos familiares, parentes e amigos das vítimas para que reencontrem a paz e superem este momento de intenso sofrimento.

Os colombianos nos deram, neste momento de dor e de profunda tristeza, um extraordinário exemplo de amor ao próximo.


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Postado por BLOG DO EZEQUIEL SENA
3/12/2016 às 18h13

 
Taxi Driver 40 anos - um retrovisor do presente



Você poderá não lembrar daqui a 10 minutos de seu último comentário sobre um meme compartilhado por seu amigo, mas daqui a 10 anos estaremos falando de meio século de Taxi Driver (1976). Travis Bickle continuará, como nós, esquizofrenicamente, se olhando no espelho.

É verdade que nem sempre artistas são os melhores analistas de suas obras. Scorsese diria certa vez que se tivesse que explicar o filme, ele não o teria feito. Mas, das muitas falas sobre a obra, a que mais me chama atenção hoje é a do roteirista Paul Schrader.

Em uma edição especial do filme ele diz: “Bickle é o que fui, um jovem alienado e zangado. O filme é sobre um jovem. De várias maneiras, é um filme meio adolescente. Ele contém a raiva adolescente de jovens frustrados cheios de adrenalina e sêmen que querem controlar o mundo ou se vingar dele. Ou seja, dos familiares, dos primos, das colegas de escola e tudo mais”.

Isso, em parte, explica os pôsteres do filme nos quartos juvenis. Schrader está generalizando. Ele não quer dizer, evidentemente, que todo jovem se tornará um Travis Bickle. Mas, pelo menos, sua leitura é menos determinista do que aquelas que apontam Bickle totalmente como o resultado da sociedade norte-americana da época.

Sim. É a cidade a personagem principal a contracenar com De Niro. É através dela que se potencializam as pulsões do psicótico protagonista. Lugares, publicidade, tipos passam pelo para-brisa de seu taxi. Já no ápice de sua paranoia esquizoide, é para fora da janela, com a câmera focalizando a rua, que ele, ao comprar seu arsenal, aponta a arma.

Sua alienação está correlacionada ao seu desejo de pertencimento. Demasiadamente humano. Se Nova York é a capital do século XX, é porque, dentre outras coisas, é com ela, naquele período especialmente, que a experiência citadina podia suscitar essa representação.

Nosso desejo de pertencimento continua a se relacionar com a grande cidade, mas ele agora também se faz através de um cenário virtualizado. Travis percorre a cidade em suas telas e decrepitude; nós, jovens tecnófilos, percorremos um cotidiano sedentos por fantásticas concretudes.

Diz Scorsese: “O ponto central é quando De Niro tenta se abrir com Peter Boyle [que faz um colega motorista]. Mas o sujeito não consegue conversar com ele. [...] Para mim aquilo era o portal, que está mais fechado do que nunca. [...] Trata-se apenas do que é ser humano, essa parte da condição humana; é disso que estamos tratando com Travis Bickle”.[1]

Não. Não nos tornaremos todos Bickle. Tentamos contornar nossas neuroses refletindo-nos na virtualidade de uma cidade, em bytes, arquitetada. Mas contornar também é se aproximar, observar, submergir.

Na última cena do filme, Travis, após deixar (ou imaginar deixar - é o prazer que está aqui) Betsy (sua salvação/obsessão) em casa, continua a dirigir. De repente, os reflexos borrados da cidade surgem novamente diante de seus olhos. Ele então ajeita o retrovisor para se ver. A trilha sonora aterrorizante de Bernard Herman retorna. Bickle, assustado e confuso, se reconhece e sabe que sua psicose é um passageiro fiel.

Ele, como um “Homem da multidão”, reflete-se na cidade. Na contemporaneidade, apesar de nos exibirmos mais do que nunca, olhamos no retrovisor e, projetando-nos, vemos nós mesmos.


[1] SCHICKEL, Richard. Conversas com Scorsese. São Paulo: Casac Naify, 2012.

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Postado por Relivaldo Pinho
2/12/2016 às 23h54

 
Fogo que se alastra

Fico surpreso quando alguém me chama de poeta.

Nada contra, fico até envaidecido, mas não sou poeta, sou cronista, contador de casos, inventor de frases.

Devo isso ao gosto pela leitura, sou para sempre um devorador de textos.

Não tive uma infância diferente dos da minha geração, algum tipo de píncaro ou coisa assim, gostava de jogar bola, soltar pandorgas e competir com bolitas.

O único senão é que, diferente dos meus amigos, sempre gostei de ler, não dormia sem antes pegar um velho livro empoeirado na estante, daqueles que traziam na essência o prazeroso cheiro das páginas do livro.

Numa época que não existia internet, eu mergulhava no mundo através da leitura e disso carrego enorme orgulho, aprendi muito, descobri até que a Lituânia existia, vi terras que meus olhos jamais alcançarão, conheci lendas, vesti roupas iguais às de Carlos Magno e junto dele caminhei em busca da conquista da Itália.

Fiz armas, armazenei amores impossíveis e, num rompante, desprezei Rapunzel.

Num espasmo de surpresa profunda, descobri que no interior da Inglaterra, viveu no século XIX uma escritora de excepcional talento para criar personagens que entraram na minha memória para nunca mais sair.

Era uma moça extremamente tímida chamada Emile Brontë, que me contou de um certo morro, pelo qual se espalhavam os ventos uivantes.

E desde então, o vento se misturou ao fogo que em mim se espalha.

Eu ainda não havia lido Vinicius de Moraes quando escrevi pela primeira vez “Fogo que se alastra”, até que me peguei diante de um texto que o poetinha escreveu, muito antes, em homenagem ao Antonio Maria: “Fogo que se alastra”, dizia em forma da saudade que a morte do amigo lhe causou.

Ah, eu achei aquilo tão lindo, mas ao mesmo tempo decepcionante, porque imaginava que a frase fosse minha, já que a construí num momento de incertezas, diante de um desses percalços da vida que a gente não sabe o que vai acontecer mais adiante e se assusta quando percebe as dificuldades aumentando sem cessar, sem dar trégua.

Então escrevi no canto direito do meu caderno a frase seca: “A dor que me consome é fogo que se alastra!”

E não parei nunca mais, permitindo que o fogo prosseguisse se alastrando.

Quando acordei nesse sábado, me detive diante da foto do Mário Quintana.

A ternura constante emoldurando o rosto do poeta serviu-me de inspiração para escrever essa crônica.

Diante dos olhos serenos do grande poeta, o fogo começou a se alastrar dentro de mim.

Mario Quintana escreveu certa vez: “O que mais enfurece o vento são esses poetas invertebrados que o fazem rimar com lamento.” E derreteu outra frase que eu vinha aprontando e que falava algo semelhante a isso, que se tornou imbecil depois que li o Quintana, algo mais ou menos assim: “Não se pode desprezar a suavidade do silvo do vento.”

Resolvi então deixar o vento em paz.

Mas sigo tentando outras frases, que logo virão, ainda que o vento não assopre e o silvo muitas vezes se perca entre as labaredas do fogo que se alastra.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
28/11/2016 às 10h52

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