Os sapatos confessam | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 10/1/2011
Os sapatos confessam
Adriana Baggio
+ de 4900 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Dizer que mulheres são loucas por sapatos é clichê mais batido que chinelinho de ficar em casa. Foi a característica que definiu a Carrie Bradshaw em Sex and the City, e olhe que das quatro amigas ela era a mais "inteligente" e menos "fútil" (as aspas servem para alertar que ainda estamos na seara dos clichês).

Precisa ter coragem para gastar aquela grana toda com meros... sapatos. O problema é que eles nunca são "meros". Sapatos, talvez, sejam mais importantes para determinar a personalidade ou a imagem de uma mulher do que roupas. Você até consegue disfarçar uma roupa barata na composição do look. Mas sapatos fuleiros parecem gritar sua origem a cada passo. E olha que eles estão lá embaixo, no pé.

Do jeito que eu falo, até parece que sou milionária e vivo comprando Christian Louboutins de 10 mil reais. A questão dos sapatos de quinta não está exatamente no preço. Tem a ver com design, estilo, material, conforto. No fim das contas, tudo isso custa. E então entra o lance do preço. Mas não necessariamente, porque você consegue sapatos muito legais com precinhos bem camaradas. E aí pode até dar uma relaxada na roupa, porque os sapatos salvam seu modelito e sua reputação.

A outra vantagem do sapato sobre as roupas é a questão do tamanho. Se você calça 38, em 99% das vezes pode confiar que um sapato deste número vai servir direitinho, não importa o modelo, a loja, a coleção ou a estação. O mesmo não acontece com a calça jeans. Se você deu azar de não ter o corpo que combina com a modelagem das marcas de roupa que são do seu gosto e/ou bolso, aposte todas as fichas nos pisantes.

A relação entre mulheres e sapatos não tem nada de fútil. Eles são muito importantes em nossas vidas. Foi isso que eu senti enquanto arrumava meu armário na faxina do fim de ano. Tirar os sapatos das prateleiras foi como folhear um diário, um álbum de fotos. Cada um traz uma lembrança, representa uma época, reflete traços de personalidade. Mas tive a péssima ideia de arrastar meu marido para aproveitar o embalo e limpar a parte dele também.

Quando comecei a enfileirar os pares, o olho dele começou a arregalar. Com todos os sapatos, os meus e os dele, lado a lado no chão, a diferença foi gritante. Bom, eu realmente acho que tenho muitos sapatos, em comparação com a ala masculina do armário. No entanto, deve ser muito menos do que você imagina. São apenas 36 parzinhos, contra 10 do meu marido.

Um grande número de sapatos (considere o número mais adequado à sua realidade) não é algo ruim se eles são bem usados e conservados e se você tem o bom senso de saber que não/nunca/jamais será normal gastar um salário mínimo (mais de dois mínimos, então, só se você rasgar dinheiro no café da manhã) num sapato quando muita família passa o mês com essa verba. Veja, você não precisa deixar de gastar: basta ter noção do valor e da discrepância entre as coisas, o que ainda assim é raro. Então, se você não é uma compradora desvairada e as solas dos seus andantes têm histórias pra contar, tá tudo bem.

Minhas prateleiras acomodam sapatos com dez, doze, quinze anos de idade. Apesar de não serem usados todo dia, também não estão abandonados. Um desses é um modelo boneca de bico quadrado preto, de veludo e salto alto, também quadrado. Ele tem muita história. Comprei quando tinha uns 18 anos, estava no começo da faculdade e namorava um estudante de medicina (outra vantagem dos sapatos: o "manequim" não muda com a idade!). Saí com eles ― o namorado e o sapato ― muitas vezes. Era uma época ingênua e romântica. Sempre que acaricio o veludo preto lembro daquela sensação de friozinho no estômago que só os primeiros namorados provocam. Hoje, quando uso este sapato, me sinto um pouco como a mocinha daquele tempo, mais leve, mais suave, mais despreocupada.

Não tão velha, mas bem rodada, é uma bota que comprei no fim de 2004. É um modelo preto com solado de borracha, bem robusto. Parece um coturno, mas não é de amarrar, fecha com zíper na lateral. O cano fica bem justo na perna e vai até o meio da canela. O que eu mais gosto nela é essa mistura de agressividade e delicadeza. Fica bem com um jeans mais curto e melhor ainda com saia. Acho que é meu sapato preferido, aquele que eu salvaria se fosse o único que pudesse carregar ao fugir de um incêndio. Quando estou com ela me sinto muito poderosa, capaz até de enfrentar um bandido com um chute na canela.

Minhas aquisições mais recentes são sapatilhas. Tenho várias, porque são o sapato mais versátil que existe para mulheres. Vejamos: mesmo sem salto, são chiques e elegantes se tiverem bico fino, abertura peep toes ou algum outro detalhe especial; salvam o look naquele dia de calor em que seus pés estão horríveis para colocar uma sandália; dá para usar no inverno sem meia, desde que não esteja menos que uns 13 ou 14 graus (não indicado para amadores); você tira e põe facilmente; normalmente são super confortáveis (menos uma vermelha da Zara, que me torturou alguns meses até eu conseguir domá-la).

Tenho também algumas peças que chamo de sapato-para-jantar-fora-com-namorado-novo. É aquele liiiindo de morrer, mas que deixa qualquer mulher com a mobilidade reduzida, devido ao extremo desconforto e desequilíbrio. Você usa somente quando não precisa andar e muito menos dirigir, se tem alguém por perto para se apoiar, se vai ficar sentada o tempo todo. Convenhamos: uma situação que reúna todos esses fatores, só mesmo no início de namoro.

Um dos últimos sapatos que ganhei do meu marido é justamente uma dessas: uma sandália flat da Le Lis Blanc, de tiras amarelas bem finas (o nome do modelo é Adriana!). Mesmo sem salto, é um pouco difícil de andar com ela. O pé escapa pela falta de apoio no calcanhar e nas laterais. Usar para trabalhar, bater perna ou dançar, não rola. Então ela fica lá no armário, meio abandonada. A não ser quando eu arranjo uns minutos para dar um trato no pé e não será preciso mais do que 20 passos entre a porta do carro e qualquer outra. Então, coloco as inviáveis sandálias de tira e, não importa a quanto tempo namore ou esteja casada, revivo aquele clima de jantar-fora-com-namorado-novo.

Será que alguém ainda não entende por que a gente gosta tanto de sapatos?


Adriana Baggio
Curitiba, 10/1/2011

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
6/1/2011
22h24min
Adorei seu texto! Infelizmente ainda não tenho condições para comprar sapatos como tenho vontade, mas você diz no texto uma grande verdade: eles confessam mesmo. Existem sapatos que são comprados e tão raramente usados que acabam por marcar alguns dos momentos mais importantes da vida.
[Leia outros Comentários de Ju]
20/10/2013
17h28min
Amei esse texto, quando conheço uma pessoa sempre observo o que usa. E ultimamente a personalidade diária está sendo exposta tbm pelas sapatilhas com cores ou detalhes fortes.
[Leia outros Comentários de Cristina cavalcante]
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