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COLUNAS
Quinta-feira,
10/3/2016
Dos papéis, a dança
Elisa Andrade Buzzo
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Fiquei intrigada em como quanto papel apareceria no palco. Papel-jornal amassado, papéis coloridos, serpentina e uma santa andina(?) com um olhar impassível segurando um ramalhete de flores.
Essa é uma possível descrição para a foto de divulgação do espetáculo de dança chileno Simple Ficción, que esteve em cartaz em dezembro de 2015 na Sala Paissandu, logo acima da Galeria Olido. Com músicas andinas e do mundo, o espetáculo ainda conta com trechos de canto, executados pela excelente Tamara Ferreira. Ela e mais dois atores, Jose Chahin e Damián Ketterer, completam o grupo dirigido por Elías Cohen, da KIM Teatro Danzante.
E a surpresa em ver essa apresentação, como quem se apaixona por um fotograma e se lança à procura apaixonada pelo filme completo, como quem se depara com um trecho de um texto num jornal e desdobra-o em suas tantas camadas noticiosas. E assim se fez com uma dança inicial imersa em camadas de papel-jornal, ocultando o corpo, a matéria, com o material. Há muitos ritmos que lembram rituais indígenas, há percussões feitas com próprio papel, com o corpo.
O papel-jornal irá acompanhar toda a narrativa, seja como metáfora do corpo que se move, como alimento, com o qual os atores enchem as mãos e se elevam como um milharal. A dança é composta de movimentos simples, mais como um desenvolvimento teatral, com uma forte presença no palco. E o público, vê-se literalmente enredado naquela cerimônia de sensações, surpreso com a quantidade de usos e a potencialidade cênica que o simples papel proporciona.
Rapidamente, uma festa é montada pelos próprios atores no palco. E Tamara Ferreira, com um manto nos ombros, decorada, numa festa de coroação com música e cor, personifica-se naquela imagem inicial, agora como um monumento vivo, em que após os usos do papel e o mergulho num mar dele recriado, o papel se apresenta como elemento vital.
Elisa Andrade Buzzo
São Paulo,
10/3/2016
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