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Segunda-feira, 8/8/2011
Amy e a hipocrisia coletiva
André Barcinski

Engraçado como um fato vem, de vez em quando, botar as coisas em perspectiva.

Amy Winehouse morreu. De verdade. Fato.

Acabou o reality show macabro de sua vida. Nenhum fã vai poder aplaudir de novo quando ela chegar ao palco bêbada, ou quando esfregar as costas da mão no nariz, como se tivesse acabado de dar um teco.

A mãe de Amy, Janis, disse aos jornais: "A morte dela era apenas uma questão de tempo". Pouco depois, a família Winehouse divulgou uma nota à imprensa, pedindo "privacidade".

Curioso: a mesma família que pede privacidade é a que passou os últimos anos dando entrevistas a programas de TV sensacionalistas, como fez o pai de Amy, Mitchell.

A verdade é que a vida de Amy Winehouse foi uma espécie de farsa trágica, acompanhada em tempo real pelos fãs e pela mídia.

Amy não foi uma vítima. Era maior de idade e sabia muito bem o que estava fazendo.

Era uma pessoa doente e que precisava de tratamento.

Infelizmente, muita gente dependia dela. Celebridades não têm tempo para se tratar, porque não podem simplesmente desaparecer.

Uma das coisas mais sensatas que ouvi sobre o caso de Amy veio do médico norte-americano Drew Pinsky, especialista em tratamento de viciados. "Uma pessoa que chega ao estágio em que Amy chegou precisa de muitos meses de tratamento só para recuperar a consciência de que precisa se tratar", disse. "Só que ela é uma celebridade, de quem muitas pessoas dependem para ganhar dinheiro, e parar de trabalhar é a última prioridade".

Pisnky citou, como caso de recuperação bem sucedida, o ator Robert Downey Jr.: "Ele fez o certo: sumiu de cena por dois ou três anos, completou seu tratamento, e depois retornou à vida pública".

Ironicamente, Pinsky é apresentador de Celebrity Rehab with Doctor Drew, um programa de TV dos mais apelativos, em que subcelebridades tentam se livrar do vício em drogas e álcool.

Diz muito sobre nós que a pessoa convidada para "iluminar" o caso de uma celebridade junkie seja, ela mesma, uma celebridade.

Sempre defendi aqui que a mídia é um espelho da sociedade. A mídia não cria, ela replica o sentimento coletivo.

Se existem repórteres e paparazzi que viviam perseguindo Amy, é porque há uma multidão de consumidores, babando por informações sobre a cantora, por mais inócuas que sejam.

E se outras junkies talentosas como Bille Holiday ou Janis Joplin tivessem vivido durante a era do YouTube, garanto que haveria um site como www.whenwillamywinehousedie.com.

Sinal dos tempos.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no blog de André Barcinski.

André Barcinski
São, 8/8/2011

 

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